terça-feira, 25 de agosto de 2009

Mechanic Sleep

Essa é uma história que fiz porque sou fascinada com a idéia de paralisia do sono.



As órbitas verdes acinzentadas de London se mexiam desesperadamente. Eram as únicas partes de seu corpo que se movimentavam. Enquanto a noite tornava-se dia, uma manhã sem sol e nublada, o antigo relógio badalava. London não sabia mais quantos sons ocos e repetitivos ouvira desde que aquele pesadelo começara.

As cortinas azuis ondulavam com o vento gélido e cortante e ele sabia que seu nariz havia perdido a sensibilidade, mesmo sem sentir o corpo normalmente. Ele nada podia fazer para se aquecer. Os papéis na escrivanhinha jaziam agora no chão junto com os rascunhos de ferrovias que havia feito na adolescência. Mecânica era sua paixão, mas naquela noite era tudo o que falhara em London. O vapor preenchia a janela acima de sua cama, como se seu corpo fosse uma chaminé quebrada nublando-a.

Nos primeiros minutos achara que era apenas um sonho ruim, que tudo passaria, mas a imobilização de seu corpo perdurava por horas. Seu peito já não arfava como antes e sua garganta não conseguia emitir nenhum som, nem um grunhido sequer. Já se resignara de que estava acordado, mas sua mente ainda queria lhe pregar peças. Foi o que achou quando ouviu a maçaneta girar, sem que ninguém entrasse.

Após algum tempo porta voltou a ranger forte e desta vez o pânico inundou sua alma. Sentiu o sangue subir rápido para a cabeça, o coração bombeando sem parar. A sensação que teve era de que desmaiaria, porém o único pensamento que atravessou sua mente foi a possibilidade de aquela ser sua passagem para a liberdade, que o choque acordaria seus sentidos.

Os olhos latejantes não podiam encarar o invasor, estava deitado de costas e já lhe doía usar a visão periférica. Tudo o que sabia era que os passos abafados pelo carpete estavam se aproximando. A ansiedade fazia seus membros e tronco suarem e pingarem, trazendo uma dor insuportável, causada pelo esforço repetitivo, fazendo sua cabeça pulsar e girar, tornando impossível ordenar seus pensamentos. Até que uma sombra cobriu a claridade do dia já nascido. London nada enxergou do rosto. Após dolorosos segundos, nos quais ele não percebeu estar tremendo levemente, a cabeça tomou formato, mas seu cérebro cansado demorou a processá-la. Reconheceu, então, os olhos apertados e o rosto oriental, que retorcia a boca num esgar mudo.
Sua empregada o sacudia, enquanto levava um celular vermelho até o ouvido, mas o único som que ouviu fora um estalo.

Seu braço mexera. E seu mundo virara trevas novamente.

Quando acordou, London estava em outro lugar. Teve medo de se movimentar e ser impedido pelas mãos invisíveis que o seguraram durante toda a madrugada.

Um médico entrou de sopetão no quarto branco e verde, junto com a moça que ainda trajava o uniforme. Ambos pareciam aliviados. London se virou e lágrimas inundaram seus olhos vermelhos e secos, no entanto, um sorriso estampava sua rosto lívido, escondido pela mão esquerda que tirintava. A mecânica não o abandonara, enfim.

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