terça-feira, 29 de setembro de 2009

Free Hugs

É engraçado como mesmo não sendo uma pessoa muuuito chegada a demonstrações públicas de afeto e contato físico, tenho que admitir que algumas pessoas me cativam nesse aspecto. Tem gente que simplesmente gera a vontade de dar um abraço grande e gordo! E falo isso num sentido totalmente não-sexual, só um abraço apertado e um sorriso de orelha a orelha mesmo.

Ainda não sei o que motiva isso, talvez fofura...mas pessoas abraçáveis são totalmente variáveis entre si, não existe um elemento característico que não a adorabilidade. Isso também acontece com alguns animais como golfinhos, coalas e ursos; tudo o que dá vontade é passar os braços ao redor do bichinho e não largar mais (claro, o abraço vem sempre junto de balançadas para os lados, rs)

Eis algo que ainda descobrirei: o fator “Sou adorável, me abrace!


PS: essa é uma das criaturas que pedem um abraço, tadinha: http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/foto/0,,21959494-FMM,00.jpg


PS2: Esse post apóia a campanha Free Hugs : D

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Like rushing water

Nem lembro mais quando fiz essa, mas sei que foi numa noite chuvosa e chata.

Enquanto estava sentado na antiga casa da árvore com meu irmão caçula e seus amiguinhos barulhentos ouvi um barulho.

Resolvi então atender aos pedidos e contar uma história, busquei pela lanterna enquanto aproveitava para olhar o lado de fora da construção espaçosa, mesmo que baixa para os padrões. Ainda chovia intensamente e não parecia querer parar tão cedo.

Pedi silêncio às crianças e fui atendido. Clareei a garganta e finalmente comecei meu conto.

"Vocês sabiam que do outro lado da cidade um garoto morreu há poucos anos?" Perguntei, esperando uma resposta afirmativa, mas eles responderam não. Ótimo. Perfeito.

"Ele se matou na verdade. Dizem que lhe doia tanto olhar para seu amor que se jogou no lago e nunca mais voltou. Esse tal amor o achou boiando numa margem da água no dia seguinte. Ele adorava nadar por ali e se deparar com um garoto tão bonito já azul e com expressão agoniada foi a pior coisa que já vira na vida. O suicída, Stan, não sabia, mas a visão que proporcionou acabou com todo o coração que restava no corpo de seu objeto de amor."

Me retrai ao sentir os olhos dos garotos aumentarem e o foco de meu irmão Issac abaixar até encontrar o chão. Melhor continuar? É, eles me pediram uma história de terror e teriam.

"Stan foi enterrado no dia seguinte após a perícia, seus pulmões cheios d'água impediram que gritasse a última vez, mas mesmo assim sua presença era sentida pelo outro garoto"

"Era um garoto, Ian?" perguntou o amigo baixinho de Isaac.

"Era..." disse apontando a lanterna para fora e vendo a mudança de cor das gotas, assim como a respiração em bruma que se formava da boca do menino ao resmungar alguma coisa e resolvi ir até o fim.

"A sensação de estar sendo seguido, de ver vultos e se sentir quente era constante na vida do garoto agora e por mais que gritasse ou chorasse, ela nunca se afastava, sempre ficando mais forte e presente.
Barulhos ao tentar dormir, água que escorria de qualquer lugar mesmo sem chuva ou nenhum outro ser que visse e claro, as lágrimas constantes e agonizantes que escorriam sem que ao menos notasse, eram só parte do tormento que se tornou viver perto da antiga casa de Stan.
Sonhava sempre com água batendo em pedras e dias nublados, seus pais resolveram até mesmo se mudar, mas tudo continuava. Persistentemente o Ícaro afogado continuava perto do menino e não parecia querer se afastar, talvez por já ter feito uma vez."

"Quando isso aconteceu?" Um menino oriental perguntou se encolhendo.

"Alguns anos atrás...não sei ao certo."

"Deixa ele continuar" Foi tudo o que o fio de voz de Isaac emitiu.

"Até um dia em que ao tomar banho se sentiu tragado pela água cheirosa da banheira, pouco depois de perceber que o espelho deixara de estar fosco e mostrava um rosto bonito de cabelo castanho.
Chorando de pânico tudo no que pensou foi o quanto não queria morrer por aquele rapaz, não por culpa de quem ele gostava tanto.

'Eu queria voltar, eu juro!' Ele gritou.

Os vidros coloridos de xampus e sabonetes foram caindo um a um, enquanto o sentimento de culpa se instalava nele. Implorando para que não fizesse aquilo sentiu seu peito queimar e uma mão se materializar, seguida por um corpo vestido de verde escuro. A roupa de Stan.

'Eu não podia voltar lá com seu pai, não podia! Eu não te matei, por que não para com isso?!'

'Porque eu ainda te amo...'

O corpo já com forma apenas deitou por cima do garoto e dormiu, repetindo suas próprias palavras e as súplicas de perdão do outro, enquanto o concedia também.
Depois desse dia o rapaz não voltou mais ao psicólogo nem foi ouvido mais um grito nas madrugadas vindo de seu quarto. Stan desapareceu da memória comum lentamente."

Os meninos assustados se deram por satisfeitos e não ousaram perguntar nada. Ao verem que a chuva havia parado desceram a escada de madeira e sumiram, até que ouvi a voz tremula do meu irmão.

"Eu não esqueci o Stan..."

"Não precisa dizer isso, você sabe."

"É verdade. E eu sei que você entendeu" Sorriu pela primeira vez desde que a noite caíra.

Enquanto estava sentado na antiga casa da árvore com meu irmão caçula e seus amiguinhos barulhentos ouvi um barulho. Um barulho de água, um sussuro quase úmido e ao olhar pra trás tudo que vi foi Stan.
Ele não iria me deixar de novo e nem eu permitiria. Demonstrei isso num abraço possessivo apertando a carne maleável e levemente nebulosa enquanto voltava a chover forte.