segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Passion fruit


Fiz você de coco e chocolate.
Cortei morangos maduros para as mucosas.
Espremi romãs para o sangue.
Olhos de amora negra. Dentes de graviola.
Artístico, só como nota.
Fiz você de chocolate e coco.
Aroma de baunilha e um rosto absorto.





terça-feira, 29 de setembro de 2009

Free Hugs

É engraçado como mesmo não sendo uma pessoa muuuito chegada a demonstrações públicas de afeto e contato físico, tenho que admitir que algumas pessoas me cativam nesse aspecto. Tem gente que simplesmente gera a vontade de dar um abraço grande e gordo! E falo isso num sentido totalmente não-sexual, só um abraço apertado e um sorriso de orelha a orelha mesmo.

Ainda não sei o que motiva isso, talvez fofura...mas pessoas abraçáveis são totalmente variáveis entre si, não existe um elemento característico que não a adorabilidade. Isso também acontece com alguns animais como golfinhos, coalas e ursos; tudo o que dá vontade é passar os braços ao redor do bichinho e não largar mais (claro, o abraço vem sempre junto de balançadas para os lados, rs)

Eis algo que ainda descobrirei: o fator “Sou adorável, me abrace!


PS: essa é uma das criaturas que pedem um abraço, tadinha: http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/foto/0,,21959494-FMM,00.jpg


PS2: Esse post apóia a campanha Free Hugs : D

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Like rushing water

Nem lembro mais quando fiz essa, mas sei que foi numa noite chuvosa e chata.

Enquanto estava sentado na antiga casa da árvore com meu irmão caçula e seus amiguinhos barulhentos ouvi um barulho.

Resolvi então atender aos pedidos e contar uma história, busquei pela lanterna enquanto aproveitava para olhar o lado de fora da construção espaçosa, mesmo que baixa para os padrões. Ainda chovia intensamente e não parecia querer parar tão cedo.

Pedi silêncio às crianças e fui atendido. Clareei a garganta e finalmente comecei meu conto.

"Vocês sabiam que do outro lado da cidade um garoto morreu há poucos anos?" Perguntei, esperando uma resposta afirmativa, mas eles responderam não. Ótimo. Perfeito.

"Ele se matou na verdade. Dizem que lhe doia tanto olhar para seu amor que se jogou no lago e nunca mais voltou. Esse tal amor o achou boiando numa margem da água no dia seguinte. Ele adorava nadar por ali e se deparar com um garoto tão bonito já azul e com expressão agoniada foi a pior coisa que já vira na vida. O suicída, Stan, não sabia, mas a visão que proporcionou acabou com todo o coração que restava no corpo de seu objeto de amor."

Me retrai ao sentir os olhos dos garotos aumentarem e o foco de meu irmão Issac abaixar até encontrar o chão. Melhor continuar? É, eles me pediram uma história de terror e teriam.

"Stan foi enterrado no dia seguinte após a perícia, seus pulmões cheios d'água impediram que gritasse a última vez, mas mesmo assim sua presença era sentida pelo outro garoto"

"Era um garoto, Ian?" perguntou o amigo baixinho de Isaac.

"Era..." disse apontando a lanterna para fora e vendo a mudança de cor das gotas, assim como a respiração em bruma que se formava da boca do menino ao resmungar alguma coisa e resolvi ir até o fim.

"A sensação de estar sendo seguido, de ver vultos e se sentir quente era constante na vida do garoto agora e por mais que gritasse ou chorasse, ela nunca se afastava, sempre ficando mais forte e presente.
Barulhos ao tentar dormir, água que escorria de qualquer lugar mesmo sem chuva ou nenhum outro ser que visse e claro, as lágrimas constantes e agonizantes que escorriam sem que ao menos notasse, eram só parte do tormento que se tornou viver perto da antiga casa de Stan.
Sonhava sempre com água batendo em pedras e dias nublados, seus pais resolveram até mesmo se mudar, mas tudo continuava. Persistentemente o Ícaro afogado continuava perto do menino e não parecia querer se afastar, talvez por já ter feito uma vez."

"Quando isso aconteceu?" Um menino oriental perguntou se encolhendo.

"Alguns anos atrás...não sei ao certo."

"Deixa ele continuar" Foi tudo o que o fio de voz de Isaac emitiu.

"Até um dia em que ao tomar banho se sentiu tragado pela água cheirosa da banheira, pouco depois de perceber que o espelho deixara de estar fosco e mostrava um rosto bonito de cabelo castanho.
Chorando de pânico tudo no que pensou foi o quanto não queria morrer por aquele rapaz, não por culpa de quem ele gostava tanto.

'Eu queria voltar, eu juro!' Ele gritou.

Os vidros coloridos de xampus e sabonetes foram caindo um a um, enquanto o sentimento de culpa se instalava nele. Implorando para que não fizesse aquilo sentiu seu peito queimar e uma mão se materializar, seguida por um corpo vestido de verde escuro. A roupa de Stan.

'Eu não podia voltar lá com seu pai, não podia! Eu não te matei, por que não para com isso?!'

'Porque eu ainda te amo...'

O corpo já com forma apenas deitou por cima do garoto e dormiu, repetindo suas próprias palavras e as súplicas de perdão do outro, enquanto o concedia também.
Depois desse dia o rapaz não voltou mais ao psicólogo nem foi ouvido mais um grito nas madrugadas vindo de seu quarto. Stan desapareceu da memória comum lentamente."

Os meninos assustados se deram por satisfeitos e não ousaram perguntar nada. Ao verem que a chuva havia parado desceram a escada de madeira e sumiram, até que ouvi a voz tremula do meu irmão.

"Eu não esqueci o Stan..."

"Não precisa dizer isso, você sabe."

"É verdade. E eu sei que você entendeu" Sorriu pela primeira vez desde que a noite caíra.

Enquanto estava sentado na antiga casa da árvore com meu irmão caçula e seus amiguinhos barulhentos ouvi um barulho. Um barulho de água, um sussuro quase úmido e ao olhar pra trás tudo que vi foi Stan.
Ele não iria me deixar de novo e nem eu permitiria. Demonstrei isso num abraço possessivo apertando a carne maleável e levemente nebulosa enquanto voltava a chover forte.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Carnival


Essa é uma história que eu fiz em 2007 e até hoje está sem revisão, rs . É basicamente uma declaração de amor ao que o carnaval representa: a beleza e a vida.



No meio da profusão de cores, formas e máscaras, fugas dos dias normais, eu senti uma presença...quase que uma aura envolvendo aquela pessoa, que no meio de tantas outras iguais chamava tamanha atençao. Pelo menos a minha.

Se existe algo que sempre me deixou eufórica essa coisa é o tão famoso Carnaval de Veneza. Todo ano logo no início de fevereiro eu deixava minha casa na Baviera, terra dos meus falecidos pais e partia para a Cidade das Águas, para passar pelo menos dois meses lá e por mais que fizesse isso há anos, continuava deslumbrada como uma criança cada vez que ia. Porém, dessa vez, alguma coisa travou meus sentidos e me fez perder a respiração por alguns segundos, quase imperceptíveis.

Minha pele começou a suar por baixo dos panos e da máscara pesada, continuei olhando para a figura de um Pierrô, o mais perfeito que já vira, todo em dourado, vinho e preto, com a lágrima escorrendo na máscara espectral, mas que estranhamente me passava uma imagem de riso, cínico e fácil por baixo dela.

Fiquei me perguntando se a figura seria feminina ou masculina, conhecida ou não, e perdida nos devaneios fui arrastada pela multidão até muito perto do fim da calçada. Me segurei na ponta de uma gôndola presa, provavelmente esperando alguma pessoa que desejasse sair do calor vertiginoso da folia. Foi então que uma mão enluvada segurou a minha e estabilizou meu corpo.
Ouvi por baixo da máscara uma voz grossa e aveludada que perguntava o que fazia uma Colombina perdida, "Talvez procurando o ousado Arlequim"? Ele disse em um tom que inspirava uma procura, mas não parecia realmente interessado em representar os famosos papéis de brigas entre o triângulo amoroso. Apenas deu uma risada sonora e fez uma reverência, o chapéu negro com penas coloridas quase tocando o chão e deixando-me ver o cabelo ondulado e castanho que caia pelos cantos da falsa pele, branca como gesso.

Ao se levantar o homem maior que eu própria pegou meu ante-braço e disse em tom divertido que me convidava a um brinde, um brinde por ter salvo minha vida. Essa foi a proposta para beber mais estranha e absurda que já ouvi, mas fui com ele, abrindo caminho no meio da multidão agitada.

Andamos por várias ruas apinhadas para chegarmos em um beco enfeitado que por dentro deixava ver apenas a rua lotada, mas tinha certeza que em um dia comum teríamos a visão perfeita das ruas inundadas. Estava totalmente dispersa quando senti a presença dele sentando-se ao meu lado com uma enorme garrafa de vinho tinto e só então pude ver seu rosto, extremamente branco, quase como sua máscara, os olhos verdes faíscantes e o nariz grande, que encaixava perfeitamente em seu rosto, um verdadeiro italiano, poderia-se dizer. Ele sorriu enviesado e me serviu uma caneca cheia.

O local tornava-se mais escuro com o passar do tempo e conforme bebia começava a não ver mais as pessoas, apenas os olhos do Pierrô que perguntou meu nome, respondi com a verdade dos que não têm mais pudor após tanta bebida: Johanna. Ele passou a mão pelo meu cabelo, tirando um pedaço de serpentina que estava preso e disse que se chamava Alessandro. Realmente um verdadeiro italiano.

Só após esse pequeno diálogo percebi que a garrafa ainda estava cheia e senti um frio na espinha...o que eram então aquelas sensações? Fui pergunta-lo se havia pedido outra garrafa e percebi que todo meu sotaque escondido após anos voltou a aparecer. Ele sorriu de novo e disse que era "Sangue, minha cara germana". A princípio achei que estava brincando, mas só quando ele encheu a boca com o líquido e chegou perto de mim, beijando minha boca e fazendo um filete da bebida escorrer pelo canto dela e cair por minha roupa branca e prateada que percebi seu tom avermelhado demais para simples vinho. Nem me importei de ter sido um homem desconhedico a me beijar com tanto fervor, mas sim pela agonia de saber que aquilo que vertia de nossas bocas era sangue e segundo ele, seu próprio.

Me puxando para mais perto e roçando o nariz pela minha face, ele sussurrou que se eu quisesse poderia correr enquanto havia tempo. Suando e com o coração aos pulos fiquei no mesmo lugar, os olhos apertados e respirando fundo. Pedi com a voz grogue, fraca pela situação que ele explicasse o que estava acontecendo. Ele mordeu a linha do meu queixo e disse que era um Ser da Noite..mas um diferente, um que podia vagar pelo dia e não estava ali pelo sangue ou nada do tipo.

No começo achei realmente que estava ficando louca ou que havia bebido todo o conteúdo da caneca, mas olhando novamente para ele percebi que era a mais pura verdade. E passando as mãos repetidamente pelo rosto pedi que me explicasse de novo e com detalhes.

Sem que eu reparasse ele me puxou pelo pulso e me levou até a porta da, então vazia, taberna. Meu chapéu estava em sua mão e com ele apontou para a rua ululante com pessoas passando e gritando, disse que era aquilo...apenas aquilo que o deixava vivo, todo o delírio e êxtase, ele simplismente não conseguia ficar longe daquele lugar. Seus olhos de esmeralda brilhavam furiosamente e então eu vi que erámos iguais. Por mais que não quisesse ou achasse loucura, erámos extremamente iguais. E ao olhar novamente para ele, senti que eu realmente queria continuar ali, para sempre.

Segurei sua nuca e falei ainda com a voz rouca em seu ouvido, disse com toda minha alma que desejava ficar ali, com ele e minha tão amada Veneza e seu Carnivale. Fui fazendo uma trilha de saliva pelo lado direito de seu rosto, até alcançar os lábios e os mordi, fazendo o sangue tão doce quanto vinho jorrar dentro de minha boca.

Após um tempo que pareceu infinito, nos afastamos e ele disse que pela primeira vez iria dividir seu amor com alguém, sua caravana de felicidade e fulgor, toda sua vivacidade. Tudo o que fiz foi sorrir e olhar para a nova perspectiva que via...a vida comum deixada para trás e à frente uma chuva de cor, eterna e misteriosa, um baile de máscaras sem fim e totalmente inebriante. Eterno. Ele pôs sua máscara e chapéu e saímos pela rua movimentada.



Imagem: http://www.dphotojournal.com/photos-from-2006-venice-carnival/

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Atoooooron

Eeeee, o blogspot comeu todos os meus parágrafos \o/!

Mechanic Sleep

Essa é uma história que fiz porque sou fascinada com a idéia de paralisia do sono.



As órbitas verdes acinzentadas de London se mexiam desesperadamente. Eram as únicas partes de seu corpo que se movimentavam. Enquanto a noite tornava-se dia, uma manhã sem sol e nublada, o antigo relógio badalava. London não sabia mais quantos sons ocos e repetitivos ouvira desde que aquele pesadelo começara.

As cortinas azuis ondulavam com o vento gélido e cortante e ele sabia que seu nariz havia perdido a sensibilidade, mesmo sem sentir o corpo normalmente. Ele nada podia fazer para se aquecer. Os papéis na escrivanhinha jaziam agora no chão junto com os rascunhos de ferrovias que havia feito na adolescência. Mecânica era sua paixão, mas naquela noite era tudo o que falhara em London. O vapor preenchia a janela acima de sua cama, como se seu corpo fosse uma chaminé quebrada nublando-a.

Nos primeiros minutos achara que era apenas um sonho ruim, que tudo passaria, mas a imobilização de seu corpo perdurava por horas. Seu peito já não arfava como antes e sua garganta não conseguia emitir nenhum som, nem um grunhido sequer. Já se resignara de que estava acordado, mas sua mente ainda queria lhe pregar peças. Foi o que achou quando ouviu a maçaneta girar, sem que ninguém entrasse.

Após algum tempo porta voltou a ranger forte e desta vez o pânico inundou sua alma. Sentiu o sangue subir rápido para a cabeça, o coração bombeando sem parar. A sensação que teve era de que desmaiaria, porém o único pensamento que atravessou sua mente foi a possibilidade de aquela ser sua passagem para a liberdade, que o choque acordaria seus sentidos.

Os olhos latejantes não podiam encarar o invasor, estava deitado de costas e já lhe doía usar a visão periférica. Tudo o que sabia era que os passos abafados pelo carpete estavam se aproximando. A ansiedade fazia seus membros e tronco suarem e pingarem, trazendo uma dor insuportável, causada pelo esforço repetitivo, fazendo sua cabeça pulsar e girar, tornando impossível ordenar seus pensamentos. Até que uma sombra cobriu a claridade do dia já nascido. London nada enxergou do rosto. Após dolorosos segundos, nos quais ele não percebeu estar tremendo levemente, a cabeça tomou formato, mas seu cérebro cansado demorou a processá-la. Reconheceu, então, os olhos apertados e o rosto oriental, que retorcia a boca num esgar mudo.
Sua empregada o sacudia, enquanto levava um celular vermelho até o ouvido, mas o único som que ouviu fora um estalo.

Seu braço mexera. E seu mundo virara trevas novamente.

Quando acordou, London estava em outro lugar. Teve medo de se movimentar e ser impedido pelas mãos invisíveis que o seguraram durante toda a madrugada.

Um médico entrou de sopetão no quarto branco e verde, junto com a moça que ainda trajava o uniforme. Ambos pareciam aliviados. London se virou e lágrimas inundaram seus olhos vermelhos e secos, no entanto, um sorriso estampava sua rosto lívido, escondido pela mão esquerda que tirintava. A mecânica não o abandonara, enfim.

Pendente

Esse é um textículo não terminado (e eu também nao faço idéia de como terminaria, rs!)

A luz do farol varria a areia prateada da praia trazendo sombras inquietantes e roubando o sono dos olhos dela.
Conforme se revirava entre os lençois sentia que essa noite o sono havia partido, sem chances de retornar. Pelo menos, não enquanto todos os sons entravam pela janela escancarada, trazendo com eles os raios amarelos da construção branca e vermelha.
Resolveu levantar e ao faze-lo tropeçou no gato malhado e peludo que dormia enroscado no tapete púrpura ao pé da cama. Xingando baixinho foi para a cozinha preparar café...seria hora de trabalhar.
Os quadros na parede e as portas fechadas corriam por sua visão periférica como borrões e ao passar pelo corredor que levava as escadas.